Kike,
Ontem assisti pela segunda vez à peça. Só fica melhor. O que o Fernando e o Emilio fazem no palco é comovente, em vários sentidos. Acho comovente a relação entre os personagens, cheia das coisas – amor, medo, solidão, alegria – que fazem a gente ser humano. Depois, tem o prodígio do que se passa entre o ator e o personagem, a relação entre os dois. Em certos momentos a gente olha para o rosto do Fernando e sabe que ele está ouvindo pela primeira vez o que o Emílio vem lhe dizendo todos os dias, a cada apresentação. Me dei conta que atuar não é apenas dizer, mas também escutar. Atuar em silêncio, reagindo ao outro, deve ser como jogar sem bola, como dizem que o Tostão fazia. Numa fração de segundos, e em silêncio, os personagens literalmente envelhecem na nossa frente. A gente se dá conta que eles não são mais os mesmos que eram antes, agora eles são eles + o que acabaram de ouvir. É espantoso. Por falta de palavra melhor, é uma transfiguração. E eu fico pensando se o melhor teatro não é exatamente isso: o diretor pede dois atores esplêndidos, duas cadeiras e um casaco, e, em troca, devolve um mundo inteiro, no qual a gente acredita piamente, mesmo que não compreenda tudo. É isso: ainda não sei se consegui destrinchar tudo que se passa na peça, mas não duvidei um só instante do que aconteceu na minha frente. Tudo é verdade. Sonho também funciona assim. E se isso soa piegas, que se dane.
Parabéns a você, ao Emílio e ao Fernando.
Com um abraço,
João
E, em outro momento, temos a crítica do querido Lionel Fischer em seu blog.